domingo, 9 de março de 2014

Corpos Negados

(JULIANA PERES)*

Quando eu era adolescente, tinha costume de falar que “nasci na época errada”, mas essa afirmação, vindo de uma mulher, hoje em dia, me causa estranheza: sou privilegiada por ter nascido já no fim do século XX. Ser MULHER e CRISTÃ neste tempo é um pouco melhor do que ser mulher e cristã em outros tempos, obviamente (ou não). Ainda estamos num mundo deturpado pelo patriarcalismo e, nele, todas nós mulheres sofremos opressões (e também nos oprimimos mutuamente), desde padrões estéticos a comportamentais, que se desdobram em violências emocionais e/ou físicas. 


Nas igrejas, a acepção entre mulheres e homens é justificada com uma leitura bíblica capenga e compartimentada. E na história da submissão mal contada, os homens precisam ser Homens e mulheres precisam ser crianças (guiadas pelos homens) com útero amadurecido o suficiente para gerar filhos - não poder ter filhos é ser passível de sofrer segregação tal qual a Ana sofria também, uma vez que ser mãe é um status dentro das igrejas - e que conseguem se manter em forma, preferencialmente, mesmo trabalhando fora e cuidando da casa/marido/filhos. Para a igreja, o corpo das mulheres ainda incita o pecado dos homens, como na idade média: é verdade que quando eu dançava na igreja, precisava usar meia calça - legging - body- manga ¾ - blusa – saia – saia, muito mais por razões de pudor do que da estética coreográfica; Também é verdade que um amigo da igreja falou que só queria ter filhos “homens” como fez o pai dele, porque “filha mulher” pode engravidar antes de casar, dando muito trabalho – muitos irmãos também pensam exatamente o mesmo. 


Enfim, ser mulher e cristã nestes tempos ainda é difícil, mas sou feliz por estar ciente da liberdade que Cristo me deu e até poder escrever isso: “Ao saber que uma mulher conceberia o Salvador, Satanás envenenou os corações dos homens contra as mulheres. Com a opressão, desejou mantê-las vivas, mas viva-mortas, e subtraía voz, visão e desejo de todas. Desapercebeu a benção, que pensara ser maldição: as mulheres se uniam em seu sangue, morriam e logo pariam a si mesmas. Um dia a mulher se fez de morada e portal do divino Salvador e este, que deu voz aos mudos, visão aos cegos e desejo aos inertes, deixou-se oprimir pela mão do homem ordenada por corações envenenados. Semelhante à mulher, deixou-se oprimir no seu sangue, morreu e pariu-se, para que todas as mulheres e os homens também pudessem ser morada d'Ele e pari-lO ao se unirem, revivendo-O entre si. E assim foi a prévia vingança do Anjo Caído que se arma e se frustra na trama atemporal.”

*Juliana é falante do Rio de Janeiro e estuda Geografia na UERJ.



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